LUCRATIVO OU
SEM FINS LUCRATIVOS
Estamos habituados a ver uma profunda distinção entre o mundo lucrativo e o mundo sem fins lucrativos. Vivemos frequentemente com definições de manual porque nos dão a sensação de compreender a realidade, que no entanto muitas vezes não segue os nossos padrões.
No passado, a maior parte das organizações agia para trazer um benefício econômico a toda a comunidade ou a um indivíduo.
O non profit nasceu no início do século XX da necessidade de cuidar de aspectos sociais que não eram lucrativos, mas de utilidade pública comprovada. Até esse momento, o modelo de negócio prevalecente era o modelo vendedor-comprador e, utilizando esse modelo, era absurdo pensar em lucrar com um problema social. Assim, nasceram associações e entidades que se beneficiaram de um sistema tributário facilitado para atenuar os problemas que as empresas tradicionais não tinham em conta.
Mas temos realmente a certeza de que esta divisão seja necessária?
Uma das inovações econômicas modernas reside precisamente no modelo de negócio: passamos do modelo do simples vendedor-comprador para modelos mais complexos nos quais quem usufrui do serviço, o beneficiário, não é quem paga.
O exemplo clássico é o Google: nenhum de nós paga para fazer pesquisas, os clientes empresariais pagam ao Google por publicidade, estudos de mercado e muitos outros serviços. Em termos simples, ao oferecer um serviço gratuito, o Google criou valor para outras empresas. Até há pouco tempo, o sucesso de uma empresa era avaliado com base no seu balanço, volume de negócios e outros parâmetros econômicos; estes parâmetros criam uma enorme diferença entre o mundo dos lucros e o mundo sem fins lucrativos.
Imaginemos que o Google é o melhor motor de busca tanto para usuários como para anunciantes, sendo que estes últimos estão satisfeitos com os seus investimentos em publicidade. Podemos dizer que a capacidade de prestar um excelente serviço é a causa do sucesso da Google? Certamente que sim: quanto melhor o serviço, maiores as vendas; mais vendas, portanto, trazem mais capital para investir em melhorar ainda mais o serviço ou criar outros novos. Cria um círculo virtuoso que irá acelerar significativamente o crescimento da empresa, tornando-a líder de mercado.
Pensemos agora numa associação que se ocupa da distribuição de refeições para os pobres. Imaginemos que a associação em questão é a melhor na transformação de donativos em refeições e que sabe como distribuí-los eficientemente. Podemos dizer que esta associação é a mais empenhada na luta contra a pobreza? Infelizmente, a capacidade de prestar um serviço não é suficiente se não for apoiada por uma grande campanha de angariação de fundos. A diferença substancial entre os dois modelos reside na cadeia de valor: enquanto para as empresas com fins lucrativos o serviço ou produto decreta o seu sucesso, no mundo non-profit serviços e resultados dependem da captação de recursos. Desta forma, encontramos realidades muito eficientes, pequenas organizações sem fins lucrativos geridas por algumas pessoas que fazem um excelente trabalho, mas que não conseguem ter um grande impacto precisamente por não conseguirem angariar fundos suficientes. Depois temos fundações que são muito eficientes na aquisição de capitais, mas muito menos eficientes na prestação de serviços. O conceito de doação, além disso, não é bem visto no mundo empresarial, porque cria realidades “viciadas” dependentes de fatores externos que escapam ao controle da empresa, sem mencionar que as pessoas estão muito mais inclinadas a fazer um investimento aceitando certos riscos do que a fazer uma doação.
O exemplo clássico é o Google: nenhum de nós paga para fazer pesquisas, os clientes empresariais pagam ao Google por publicidade, estudos de mercado e muitos outros serviços. Em termos simples, ao oferecer um serviço gratuito, o Google criou valor para outras empresas. Até há pouco tempo, o sucesso de uma empresa era avaliado com base no seu balanço, volume de negócios e outros parâmetros econômicos; estes parâmetros criam uma enorme diferença entre o mundo dos lucros e o mundo sem fins lucrativos.
Imaginemos que o Google é o melhor motor de busca tanto para usuários como para anunciantes, sendo que estes últimos estão satisfeitos com os seus investimentos em publicidade. Podemos dizer que a capacidade de prestar um excelente serviço é a causa do sucesso da Google? Certamente que sim: quanto melhor o serviço, maiores as vendas; mais vendas, portanto, trazem mais capital para investir em melhorar ainda mais o serviço ou criar outros novos. Cria um círculo virtuoso que irá acelerar significativamente o crescimento da empresa, tornando-a líder de mercado.
Pensemos agora numa associação que se ocupa da distribuição de refeições para os pobres. Imaginemos que a associação em questão é a melhor na transformação de donativos em refeições e que sabe como distribuí-los eficientemente. Podemos dizer que esta associação é a mais empenhada na luta contra a pobreza? Infelizmente, a capacidade de prestar um serviço não é suficiente se não for apoiada por uma grande campanha de angariação de fundos. A diferença substancial entre os dois modelos reside na cadeia de valor: enquanto para as empresas com fins lucrativos o serviço ou produto decreta o seu sucesso, no mundo non-profit serviços e resultados dependem da captação de recursos. Desta forma, encontramos realidades muito eficientes, pequenas organizações sem fins lucrativos geridas por algumas pessoas que fazem um excelente trabalho, mas que não conseguem ter um grande impacto precisamente por não conseguirem angariar fundos suficientes. Depois temos fundações que são muito eficientes na aquisição de capitais, mas muito menos eficientes na prestação de serviços. O conceito de doação, além disso, não é bem visto no mundo empresarial, porque cria realidades “viciadas” dependentes de fatores externos que escapam ao controle da empresa, sem mencionar que as pessoas estão muito mais inclinadas a fazer um investimento aceitando certos riscos do que a fazer uma doação.
Será que ainda temos a certeza de que profit e non profit devem permanecer separados?
A separação dos dois mundos decorre da incapacidade de ver valor nos problemas sociais, ainda que nos últimos tempos os horizontes pareçam estar se ampliando. A partir do meio ambiente, agora é claro como, ao preservar a biodiversidade, a redução das emissões de CO2 tem um impacto positivo no nosso planeta e, consequentemente, também um valor econômico.
Se acrescentássemos o impacto ambiental aos balanços das empresas, o resultado seria devastador, especialmente para as empresas da indústria pesada.
Alguns instrumentos como a taxa de emissão de carbono vão nessa direção, ou seja, tentam dar um valor econômico ao que é um valor social; embora não seja fácil dar um valor econômico a um mundo limpo, é importante tentar pensar em termos econômicos. Desde 2000, muitos economistas começaram a trabalhar no chamado financiamento de impacto (impact finance), procurando instrumentos que tornassem mais claras as implicações econômicas dos problemas sociais.
O primeiro caso foi na Inglaterra com os vínculos sociais (social bond), que nada mais são do que uma “aposta” na solução de alguns problemas sociais.
Tomemos o problema da reincidência nas prisões: um preso custa 137 euros por dia ao Estado italiano; se decidíssemos pagar 50 euros por dia aos presos para se comportarem bem, para serem postos em liberdade, o Estado pouparia 87 euros por dia no papel, o que, para os 60 000 presos, atingiria mais de 5 milhões por dia. Obviamente que se trata de um cálculo hipotético, de modo que o aspecto dissuasivo da prisão, bem como da reabilitação, seria totalmente inexistente, mas um empresário veria certamente uma grande oportunidade de negócio.
Se conseguíssemos reduzir o número de prisioneiros através de métodos mais realistas, por exemplo, formando os prisioneiros para estarem prontos para um emprego no final da sua detenção, evitando casos de reincidência, o Estado teria ainda uma poupança e poderia utilizar parte dessa poupança para investir ou recompensar os investimentos feitos no setor.
Esta é, de uma forma simples, a definição de vínculo social (social bond) de acordo com o regime anglo-saxónico. Para funcionar, necessita de um fiador, que se comprometa a recompensar economicamente aqueles que conseguem reduzir as despesas sociais.
Os social bond são um instrumento que provavelmente irá mudar o terceiro setor, mas dada a elevada complexidade será necessário esperar um pouco mais. Há outro cenário, na minha opinião mais interessante e dinâmico: o mecanismo capitalista utilizado nos problemas sociais. O empreendedorismo social não precisa de garantias: tudo se baseia no capital e no risco, neste caso, com o acréscimo de uma missão social, nascem as empresas do absurdo como o Grameen Bank, chamado o banco dos pobres, fundado em 1976 pelo Prêmio Nobel Muhammad Yunus.
O conceito que está na base do Grameen Bank é exatamente o oposto daquilo em que os bancos tradicionais tem se baseado: a confiabilidade. É sabido que os bancos não emprestam dinheiro àqueles que não têm referências, mas, num país pobre como o Bangladesh, os pobres provaram ser excelentes pagadores, ainda melhor do que os ricos. São estes conhecimentos que, quando postos em prática, permitem o nascimento de empresas impossíveis, como uma empresa de torrefação gerida por pessoas sem teto, uma companhia telefônica para pessoas surdas, e por aí fora. Diante dessas realidades, a distinção entre lucro e não-lucro é tênue, deixando espaço para a imaginação e criatividade dos empresários, que podem colocar as suas competências ao serviço da sociedade, demonstrando que a aplicação da lógica empresarial aos problemas sociais é não só possível, mas sobretudo sustentável e replicável.
Alguns instrumentos como a taxa de emissão de carbono vão nessa direção, ou seja, tentam dar um valor econômico ao que é um valor social; embora não seja fácil dar um valor econômico a um mundo limpo, é importante tentar pensar em termos econômicos. Desde 2000, muitos economistas começaram a trabalhar no chamado financiamento de impacto (impact finance), procurando instrumentos que tornassem mais claras as implicações econômicas dos problemas sociais.
O primeiro caso foi na Inglaterra com os vínculos sociais (social bond), que nada mais são do que uma “aposta” na solução de alguns problemas sociais.
Tomemos o problema da reincidência nas prisões: um preso custa 137 euros por dia ao Estado italiano; se decidíssemos pagar 50 euros por dia aos presos para se comportarem bem, para serem postos em liberdade, o Estado pouparia 87 euros por dia no papel, o que, para os 60 000 presos, atingiria mais de 5 milhões por dia. Obviamente que se trata de um cálculo hipotético, de modo que o aspecto dissuasivo da prisão, bem como da reabilitação, seria totalmente inexistente, mas um empresário veria certamente uma grande oportunidade de negócio.
Se conseguíssemos reduzir o número de prisioneiros através de métodos mais realistas, por exemplo, formando os prisioneiros para estarem prontos para um emprego no final da sua detenção, evitando casos de reincidência, o Estado teria ainda uma poupança e poderia utilizar parte dessa poupança para investir ou recompensar os investimentos feitos no setor.
Esta é, de uma forma simples, a definição de vínculo social (social bond) de acordo com o regime anglo-saxónico. Para funcionar, necessita de um fiador, que se comprometa a recompensar economicamente aqueles que conseguem reduzir as despesas sociais.
Os social bond são um instrumento que provavelmente irá mudar o terceiro setor, mas dada a elevada complexidade será necessário esperar um pouco mais. Há outro cenário, na minha opinião mais interessante e dinâmico: o mecanismo capitalista utilizado nos problemas sociais. O empreendedorismo social não precisa de garantias: tudo se baseia no capital e no risco, neste caso, com o acréscimo de uma missão social, nascem as empresas do absurdo como o Grameen Bank, chamado o banco dos pobres, fundado em 1976 pelo Prêmio Nobel Muhammad Yunus.
O conceito que está na base do Grameen Bank é exatamente o oposto daquilo em que os bancos tradicionais tem se baseado: a confiabilidade. É sabido que os bancos não emprestam dinheiro àqueles que não têm referências, mas, num país pobre como o Bangladesh, os pobres provaram ser excelentes pagadores, ainda melhor do que os ricos. São estes conhecimentos que, quando postos em prática, permitem o nascimento de empresas impossíveis, como uma empresa de torrefação gerida por pessoas sem teto, uma companhia telefônica para pessoas surdas, e por aí fora. Diante dessas realidades, a distinção entre lucro e não-lucro é tênue, deixando espaço para a imaginação e criatividade dos empresários, que podem colocar as suas competências ao serviço da sociedade, demonstrando que a aplicação da lógica empresarial aos problemas sociais é não só possível, mas sobretudo sustentável e replicável.
Lorenzo Di Ciaccio
Após 4 anos como consultor de TI, ele deixou seu emprego para fundar a Pedius. Desde 2013 Pedius já permitiu que mais de 33.000 pessoas em 14 países fizessem ligações telefônicas. Além da Pedius Lorenzo é professor de ética empresarial na Universidade Luiss Guido Carli.